Ar

terça-feira, 13 de agosto de 2019



Estou onde a chuva possa me molhar,
Estou onde finda o dia
Estou onde calhar,
Estou onde quero
Estou pelo ar,
Estou em mil pedaços por aí,
Estou a te encontrar

A Cadeira

quarta-feira, 29 de maio de 2019



Esta é a cadeira. Onde o tempo passa diante dela como numa TV. A cadeira que ente a escuridão, faz coexistir a luz.

Sordidez entre os pés, madeira podre e molhada, amontoado de lixo, resto de coisas que um dia valiam algo. Bituca de cigarro, ferrugem, formigas, as sofistas de paz, as matemáticas da teoria do caos. Vidro quebrado, rubrica em tinta a óleo de alguém que já morreu. Um telefone, um copo e outra bituca de cigarro. Mas o que importava era a cadeira.

Sento todo dia naquela cadeira, observo vagarosamente o universo, aspiro poeira de tempos que não voltarão, vislumbro o futuro mais distante, lamento o infeliz presente. A sala abandonada estava lá todos os dias, ás vezes com um ou dois ratos a mais, mas era sempre a mesma coisa, lixo, formigas, eu e a cadeira. Pois ali é onde todo o universo faz sentido, ali é onde o caos outorga a ordem, pois ali, é onde estou.

Flor

domingo, 14 de abril de 2019



Fala flor, 
do que machuca por dentro, 
do que sangra a alma.

Fala dor,
do som que destoa, 
da sina que desalma.

Fala Senhor,
da lágrima que atina,
do detalhe que agalma.

Fala ardor,
do fogo que não apaga,
do vestido que é xalma.

Fala doutor,
da vida que me resta,
de tudo que me desalma.

Fala amor,
do dia que já foi,
e do mar que acalma. 

Ser

domingo, 10 de março de 2019



A verdade é que dividir dinheiro, carro, casa é fácil. Ter a singeleza para dividir a alma é das mais complexas experiências da vida, pois não se trata do mensurável, do previsível nem muito menos do planejável, se trata simplesmente do ser. E ser aquilo que se é esperado pelo outro pode-se considerar louvável, mas ser parte do outro é a abstração do universo em um único momento. É convergir o incompreensível, é perder o limiar da razão, é incontestavelmente transcender.

Primavera

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019



Hoje faz um ano que você se foi, e junto foi a minha alma e a primavera.
Lembro-me que em meio a primavera tentei colher uma rosa e agarrei seu caule. Insensato! Que Cartola me perdoe, queixei-me da rosa, pois me fizeste sangrar.
Em outra dose de insensatez, podei a rosa, flor em pote d'água: A miragem da escuridão. Morte!
Hoje faz um ano que meu jardim secou, não há mais vida, não há cor. Há apenas um deserto do vazio que ficou.
Não há lágrima que lave o sangue seco sobre a terra, não há milagre que germine do espinho que ficou, outro roseiral. Não há carnaval, nem mesmo primavera.

Abraço

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019



Eu quero um abraço, não um abraço de corpo, um abraço de alma. Abraço daqueles que ascendem e transcendem o espírito.

Quero apenas sentir, saber que sou, que estou. Quero pertencer eternamente naquele lugar. Quero que seja etéreo e singular: Sublime.

Quero um abraço, quero que você esteja onde eu estou, quero que me faça sentir vivo. Que me faça viver. Quero um abraço. Abraço.
Pensamentos Irreais